terça-feira, 5 de junho de 2012

Hoje acordei a trautear esta, que já não ouvia há imenso tempo:

Refrão:
Nem tudo que reluz é ouro
Oi, nem tudo que balança cai!
(bis)
A moça que a gente conhece
Todo dia rezando na igreja,
Pode ser que ela seja uma santa
Mas também pode ser que não seja!
Refrão
O moço que a gente conhece
Todo dia bebendo cerveja,
Pode ser que ele seja um pau-d'água
Mas também pode ser que não seja!
Refrão
O homem que diz que não foge,
Que enfrenta sorrindo a peleja,
Pode ser que ele seja um valente
Mas também pode ser que não seja!
Refrão
A flor que nasce no mangue
E no meio do lodo viceja,
Pode ser uma flor muito pura
Mas também pode ser que não seja!

terça-feira, 6 de março de 2012

Nos 85 anos de Gabriel García Marquez

 Gabriel Garcia Marquez faz hoje 85 anos. O escritor colombiano e Prémio Nobel da Literatura há 20 anos (1982) retirou-se entretanto da vida pública por razões de saúde: cancro linfático. Agora, parece que seu estado está cada vez mais grave.Enviou uma carta de despedida aos seus amigos. É o seguinte o seu teor.

“Se, por um instante, Deus se esquecesse de que sou uma marionete de trapos e me presenteasse com mais um pedaço de vida,
eu aproveitaria esse tempo o mais que pudesse.
Possivelmente, não diria tudo o que penso,
mas, definitivamente, pensaria tudo o que digo.

Daria valor às coisas, não por aquilo que valem,
mas pelo que  significam.
Dormiria pouco, sonharia mais, porque entendo que, por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz.
Andaria quando os demais se detivessem, acordaria quando os demais dormissem.

Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida,
deitar-me-ia ao sol, deixando descobertos
não somente o meu corpo como também a minha alma.
Aos homens, eu provaria quão equivocados estão ao pensar que deixam de se enamorar quando envelhecem,
sem saberem que envelhecem quando deixam de se enamorar..
A um menino, eu lhe daria asas e apenas lhe pediria que aprendesse a voar.
Aos velhos, ensinaria que a morte não chega com o fim da vida, mas, sim, com o esquecimento.
Tantas coisas aprendi com vocês homens... Aprendi que todo o mundo quer viver no topo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subi-la.
Aprendi que, quando um recém nascido aperta com a sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo do seu pai, o agarrou para sempre.
Aprendi que um homem só tem direito a olhar o outro de cima para baixo quando o está ajudando a levantar-se.
São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas, agora, realmente de pouco me servirão, porque, quando me guardarem dentro dessa caixa, infelizmente estarei morrendo.
Diga sempre o que sente e faça o que pensa.
Supondo que hoje fosse a última vez que lhe verei dormir, eu lhe abraçaria fortemente e rezaria ao Senhor para poder ser o guardião da sua alma.
Supondo que estes são os últimos minutos que lhe vejo, eu lhe diria “Amo Você”, e não assumiria, loucamente, que já o sabe.
Existe sempre um amanhã em que a vida nos dá outra oportunidade para fazermos bem as coisas,...
... mas, pensando que hoje é tudo o que nos resta, gostaria de lhe dizer o quanto lhe quero e que nunca lhe esquecerei.
O amanhã não está assegurado a ninguém, jovens ou velhos. Hoje pode ser a última vez que você veja aqueles que ama.
Por isso, não espere mais! Faça hoje, porque o amanhã pode nunca chegar.
Senão, lamentará o dia em que não teve tempo para um sorriso, um abraço, um beijo porque estava muito ocupado para atender esse último desejo.
Mantenha os que ama juntos de você, diga-lhes ao ouvido o muito que precisa deles, o quanto lhes quer. E trate-os bem!
Aproveite para lhes dizer “me perdoe”, “por favor”, “obrigado” e todas as palavras de amor que conhece.
Você não será recordado pelos seus pensamentos secretos. Peça ao Senhor a força e a sabedoria para expressá-los.
Demonstre aos seus amigos e seres queridos o quanto são importantes para você!”

segunda-feira, 5 de março de 2012

"Um dia isto tinha de acontecer"

Um Dia Isto Tinha Que Acontecer,
por Mia Couto


Existe mais do que uma! Certamente!

Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.

Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações.

A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.

Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.

Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1.º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.

Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.

Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.

Foi então que os pais ficaram à rasca.

Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.

Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.

São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.

São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!

A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas.

Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.

Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.

Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.

Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.

Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.

Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.

Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.

Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.

Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração?

Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!

Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).

Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja! que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.

E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!

Novos e velhos, todos estamos à rasca.

Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.

Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.

Haverá mais triste prova do nosso falhanço?

domingo, 15 de agosto de 2010

Um soneto de Camões

Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que pera mim bastava amor somente.

Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas, que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.

Errei todo o discurso de meus anos;
Dei causa que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.

De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Génio de vinganças!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Prémio "Seeds of Science 2010 - Comunicação"

O jornal online CiênciaHoje atribui anualmente os prémios "Seeds of Science" que compreendem diversas categorias. Este ano, na categoria de Comunicação, fui eu o distinguido. Foi uma surpresa e fiquei satisfeito, evidentemente.
O prémio foi entregue durante a Gala da Ciência, no Casino da Figueira da Foz, no passado dia 22 de Maio. Dias depois, a 30 de Maio, a RTP deu a notícia e eu estive na RTP N às 17 horas para uma conversa com a minha colega Alberta Marques Fernandes. Aqui fica a conversa.



sexta-feira, 7 de maio de 2010

Inveja!

Pronto, está bem! Eu sei que é pecado! Mas não consigo resistir!

Dizem que voar sempre foi um sonho do Homem. Por mim, é verdade. Acho que um dia ainda vou saltar de pára-quedas.

Tenho inveja do Felix Baumgartner! Ele vai saltar de uma cápsula na estratosfera e voar em queda livre à velocidade do som.

Será um feito histórico, agrupando quatro recordes: velocidade do som (será o primeiro homem a atingir a velocidade do som em queda livre, cerca de 1100 km/hora); queda livre em altitude (quer abandonar a cápsula que o transporta a uma altitude mínima de 120 mil pés, ou seja 37 km); mais alto voo em balão tripulado (os tais 120 mil pés); mais longa queda livre (cinco minutos e trinta e cinco segundos até abrir o pára-quedas).

O austríaco Felix Baumgartner já se tornou famoso pelos saltos em situações incríveis. Entre outras, saltou do cimo das Torres Petronas (450 m) em Kuala Lumpur, na Malásia; fez o salto de mais baixa altitude de sempre, da estátua do Cristo Redentor (29 m) no Rio de Janeiro; foi o primeiro a atravessar o Canal da Mancha em queda livre; saltou da ponte mais alta do mundo em Millau (343 m), França.

Eu não tenho inveja da fama que ele alcançou. Mas confesso que invejo as sensações que tem vivido. E pecado confessado...

(Página do Felix)